quinta-feira, 10 de maio de 2012

QUASE ESCOLA....


QUASE ESCOLA...

Atendi ao telefone. Era funcionária de uma escola municipal e como a nova diretora havia anos atrás trabalhado comigo em outra escola, convidava-me para uma palestra. Consultei a agenda, a data requerida estava livre, a escola não ficava muito longe. Pensei. Por que não?

Não me lembrava da colega, mas com certeza a proximidade me acordaria a memória. Indaguei pelo tema. Pediu que aguardasse na linha. Uma infinidade. Com assuntos para resolver, contas a pagar, papelada para despachar e ali preso ao telefone, via minha impaciência crescer. Pensei em desligar, mas fugi da grosseria e fui compensado. Quase vinte minutos depois a voz retornou à linha informando: “A diretora disse para o senhor falar sobre o que quiser”. Suspirei frustrado, mas pensei. Não importa. Chego antes, converso com essa amiga, ouço seus anseios, interrogo-a sobre seus problemas, peço o perfil de seus professores e suas ansiedades e assim, pouco a pouco, o tema vai se concretizando.

Na data marcada, uma hora antes apareci. Não havia ninguém, cheguei duvidar do endereço certo, mas após meia hora apareceu uma funcionária confirmando que, realmente, uma palestra, sem tema definido, estava marcada. Minutos depois apareceu uma professora que me encaminhou a uma bibliotecária que, sorrindo, sugeriu que eu falasse com uma coordenadora. Quando apareceu e cumprimentou-me, indaguei pelo tema e a resposta foi à mesma: “Qualquer coisa”. Agoniado, aguardei a diretora, recebeu-me com abraços efusivos e recordações que eu já há muito perdera.

Entrevistei-a sobre a escola, os professores, a equipe administrativa, seus alunos. Desejava saber se a prova Brasil a preocupava, como andava o IDEB, se havia rotatividade de professores ou não, quais objetivos de Projeto Pedagógico se mostravam mais distantes. Não sabia. Era nova na escola e nova também como diretora e justamente por essa pouca experiência é que me chamara. Na verdade era quase diretora. Chamou a coordenadora pedagógica e após papo cordial e lisonjeiro, pouco pode me ajudar na definição do tema. A escola tinha alguns problemas (Qual não os tinha?), sentia falta de coesão na equipe docente e percebia insatisfação nos pais. Perguntei-lhe quais estratégias desenvolvia para atraí-los a escola, que projetos empreendera para fazer da turma de professores uma equipe. Disse-me que nenhuma, afinal os pais deveriam saber que sua presença era importante para a aprendizagem dos filhos, mas raramente apareciam... Os professores tinham consciência da importância de uma verdadeira equipe. Apenas isso. Descobri que dessa cordial conversa nada me ajudaria na definição do tema, pois, confessou-se era na verdade uma quase coordenadora.

Continuei, como andarilho errante, em busca de respostas e colhi abraços e sorrisos, gentileza e cordialidade, mas muito pouco sobre a escola e seu cotidiano, sobre os alunos e seus desafios, os professores e suas angústias. Olhando-os afoitos no lanche servido, entusiasmados nos casos a relatar, pensei que em verdade eram quase professores de quase alunos. Duas horas depois de insossas conversas, saí da escola. Ministrei uma quase palestra.

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