QUASE ESCOLA...
Atendi ao telefone. Era funcionária de
uma escola municipal e como a nova diretora havia anos atrás trabalhado comigo
em outra escola, convidava-me para uma palestra. Consultei a agenda, a data
requerida estava livre, a escola não ficava muito longe. Pensei. Por que não?
Não me lembrava da colega, mas com
certeza a proximidade me acordaria a memória. Indaguei pelo tema. Pediu que
aguardasse na linha. Uma infinidade. Com assuntos para resolver, contas a
pagar, papelada para despachar e ali preso ao telefone, via minha impaciência
crescer. Pensei em desligar, mas fugi da grosseria e fui compensado. Quase
vinte minutos depois a voz retornou à linha informando: “A diretora disse para
o senhor falar sobre o que quiser”. Suspirei frustrado, mas pensei. Não importa.
Chego antes, converso com essa amiga, ouço seus anseios, interrogo-a sobre seus
problemas, peço o perfil de seus professores e suas ansiedades e assim, pouco a
pouco, o tema vai se concretizando.
Na data marcada, uma hora antes
apareci. Não havia ninguém, cheguei duvidar do endereço certo, mas após meia
hora apareceu uma funcionária confirmando que, realmente, uma palestra, sem
tema definido, estava marcada. Minutos depois apareceu uma professora que me
encaminhou a uma bibliotecária que, sorrindo, sugeriu que eu falasse com uma
coordenadora. Quando apareceu e cumprimentou-me, indaguei pelo tema e a
resposta foi à mesma: “Qualquer coisa”. Agoniado, aguardei a diretora,
recebeu-me com abraços efusivos e recordações que eu já há muito perdera.
Entrevistei-a sobre a escola, os
professores, a equipe administrativa, seus alunos. Desejava saber se a prova
Brasil a preocupava, como andava o IDEB, se havia rotatividade de professores
ou não, quais objetivos de Projeto Pedagógico se mostravam mais distantes. Não
sabia. Era nova na escola e nova também como diretora e justamente por essa
pouca experiência é que me chamara. Na verdade era quase diretora. Chamou a
coordenadora pedagógica e após papo cordial e lisonjeiro, pouco pode me ajudar
na definição do tema. A escola tinha alguns problemas (Qual não os tinha?),
sentia falta de coesão na equipe docente e percebia insatisfação nos pais.
Perguntei-lhe quais estratégias desenvolvia para atraí-los a escola, que
projetos empreendera para fazer da turma de professores uma equipe. Disse-me
que nenhuma, afinal os pais deveriam saber que sua presença era importante para
a aprendizagem dos filhos, mas raramente apareciam... Os professores tinham
consciência da importância de uma verdadeira equipe. Apenas isso. Descobri que
dessa cordial conversa nada me ajudaria na definição do tema, pois,
confessou-se era na verdade uma quase coordenadora.
Continuei, como andarilho errante, em
busca de respostas e colhi abraços e sorrisos, gentileza e cordialidade, mas
muito pouco sobre a escola e seu cotidiano, sobre os alunos e seus desafios, os
professores e suas angústias. Olhando-os afoitos no lanche servido,
entusiasmados nos casos a relatar, pensei que em verdade eram quase professores
de quase alunos. Duas horas depois de insossas conversas, saí da escola.
Ministrei uma quase palestra.
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